(publicado em 03.05.10)
Achamos bastante interessante o texto de André Stolarki, publicado na revista D2B Design To Branding Magazine (Ano XV, número 06 Outubro 2009). Não deixem de conferir e opinar.
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Um grande amigo meu declarou, durante um de seus cursos, que já não aguentava mais ouvir a mesma pergunta proferida onde quer que designers se reunissem para debater algo: “Afinal, o que é design?
Considerando que não faltam definições à disposição, essa pergunta é mesmo o sintoma de um genuíno mal-estar. O fato é que o termo design se espalhou de forma tão abrangente por nosso cotidiano, revelou-se de maneiras tão inusitadas e contradisse tantos limites estabelecidos que parece cada vez mais difícil contê-lo. Paul Rand, um dos maiores designers do século passado, chegou a afirmar que “tudo é design”.
De fato, é fácil ver como são frágeis os limites que se tentou frustadamente impor ao design. Chovem exemplos que mostram que o design é tanto uma profissão quanto um meio, que ele não requer formação específica para todas as suas variantes, que não se limita à indústria nem a produção seriada; que não é necessariamente funcional nem universal; que não é uma ciência; que cria problemas no exato momento que os resolve; que não se limita a produzir artefatos concretos, mas também processos e ideias abstratas; e que frequentemente se confunde com certas disciplinas de que lança mão, afirmando-se como arte, arquitetura, planejamento urbano, engenharia, publicidade, moda, música, literatura e tantas outras.
Parafraseando o geógrafo Milton Santos, é possível afirmar que há tantas definições de design quanto há designers, mas que, mesmo assim, é preciso que o design saiba definir seu objeto – e esse objeto é, sem dúvida nenhuma, o projeto. Design é tudo aquilo que envolve projeto, como dizia Buckminster Fuller ou, se quisermos, é o atributo consciente de nossas ações projetuais. Por isso mesmo, o filólogo Antônio Houaiss propôs já nos anos 1960 que o termo design fosse traduzido para o português como “projética”. Nesse sentido amplo, arquitetos, urbanistas, engenheiros, artistas, administradores, empresários, políticos, estudantes e donas de casa podem ser designers, não importa se em tempo integral ou não.
Tudo isso pode soar abrangente demais, mas é verdadeiro que, ao longo do último século, o design ganhou essa força justamente por ter sido a disciplina que mais universalizou e democratizou a noção de projeto, demonstrando que ela é essencial à nossa existência e, porque não, à nossa sobrevivência.
A essa altura, no entanto, você deve estar se perguntando: “Para que trazer essa discussão teórica e restrita ao mundo dos designers a uma revista voltada para a relação entre design e negócios?”
A respostas é simples: quem ficar atento a essa realidade vai notar uma valorização e uma presença cada vez maior e diversificada do design em instâncias centrais do planejamento – nos conselhos de administração de empresas privadas, nas secretarias de órgãos públicos, em organizações não governamentais e em diversas outras esferas antes inatingíveis.
As empresas e instituições mais bem-sucedidas no futuro, por sua vez, serão aquelas que conseguirem extrair tudo o que as complexas ramificações do design tiverem a oferecer. Já as iniciativas que ignorarem essa complexidade inerente, encastelando-se em definições forçadamente restritivas, perderão para as que souberem compreendê-la.
Se as conseqüências dessa forma de entender o design são enormes, pelo menos há de agradar ao meu amigo. Afinal, já podemos deixar para trás a pergunta “O que é design?”, concentrando-nos em pensar como a noção de projeto pode nos ajudar a melhorar nossas vidas.
André Stolarki, 39, designer, é sócio da produtora de design carioca Tecnopop.
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