10 dezembro 2010

6º EDU – ENCONTRO DESIGN UNEB 2010 / PRATA DA CASA

Por Ândlei Lisboa

A 6ª edição do EDU - Encontro de Design UNEB - ocorreu nos dias 22 e 23 no Teatro UNEB e teve como tema - Prata da Casa. O evento, que ocorre anualmente, trouxe ao palco ex-alunos do curso de Design desta instituição. Em dois dias de palestras e mesas redondas, que abrangiam as diversas vertentes da profissão, os participantes puderam assistir a Lucas Hirata, na palestra mais aguardada pelos webdesigners, Gustavo Busson, engenheiro de automóveis e até o "cafajeste" Daniel Rabelo, falando sobre agências de publicidade. Em uma organização modesta, mas impecável, o evento foi agraciado pelo local de realização. O Teatro UNEB proporcionou conforto aos participantes e internet wi-fi de ótima performance para os twitteiros de plantão. Vale lembrar que o Teatro possui agenda cultural e poderia ser melhor aproveitado pela sociedade baiana. Parabéns, UNEB, por este belo espaço. Voltando ao assunto, não preciso dizer que o EDU tornou-se um dos mais respeitados eventos acadêmicos de design de Salvador. Afinal, já são 6 anos compartilhando informação de alto nível como uma oportunidade de reflexão sobre a atividade profissional e o ensino do design. Esperamos que as outras faculdades sigam o exemplo e criem mais eventos para movimentar a academia e o mercado locais. A seguir, listo resumos das principais palestras com alguns links sobre os palestrantes ou sobre os projetos citados no evento:

Palestra - Projeto de Design: Da Concepção à Execução
Lucas Hirata

Lucas Hirata formou-se na UNEB em 2000, hoje é UX Designer (Designer de Experiência de Usuário) e já fez trabalhos como os portais globo.com, G1 e globoesporte (portfólio). Voltou recentemente para o Brasil depois de passar por agências internacionais como a HUGE, em Nova York. Hoje é freelancer e estuda a possibilidade de voltar a uma grande agência. Hirata inicia a palestra contando como começou a trabalhar com web. Ele atendia seus clientes com demandas de design gráfico (impressos) que foram evoluindo e percebendo a necessidade de mostrar suas marcas na web. Assim aconteceu com muitos outros designers no início dos anos 2000. Conforme o título de sua palestra, ele fala de etapas da execução de um projeto de webdesign, tópico sugerido pela professora Célia, organizadora do evento, para sua apresentação. Estas são as etapas e as ferramentas que utiliza em seu trabalho:

01. Entender o problema Personas e Cenários
02. Planejar Metas e Visão
03. Inventar User Workflow, Sketchs, Brainstorm, Moodboard, Visual, Wireframe, AI, Prototipagem, Testes
04. Definir Especificações Técnicas, Styleguide, Requisitos de Sistema
05. Construir Client-side, Infra-Estrutura, Programação, Integração
06. Deplay (instalar) Controle de Qualidade, Lançamento
07. Manutenção e Evolução Análise e Avaliação (analytics, taxas de clique, palavras-chave), Design Incremental (produtos beta, feedback)

Depois de fazer cursos de After Effects, 3d, Flash com Banco de Dados e outros, Hirata colocou um portfolio na internet e a globo.com chamou para trabalhar no redesign do portal. Lá, por conhecer todo este processo de trabalho, passou a liderar a equipe de projetos como globoesporte, G1, Ego, Rede Globo, Big Brother Brasil. Ele contou que eram desenvolvidos modelos de sites para novelas e reality shows, módulos que editores montavam de acordo com o produto. Assim, eram pensadas propostas flexíveis, o que demandava grande expertise em user experience e arquitetura de informação. Além disso, por ter uma hierarquia bem quebrada, todos tinham alta responsabilidade no sucesso do trabalho. Ao final, falou da necessidade de se ter mais profissionais especializados em interação, experiência de usuário e arquitetura da informação. Estas são disciplinas pouco estudadas na academia e deveriam fazer parte do repertório de conhecimento dos profissionais de web.

Palestra - Desenvolvimento de Produtos para Indústria Moveleira
Marcus Mendes

Mais uma vez é exaltada a importância de se planejar o desenvolvimento do produto. É preciso entrar na área estratégica das empresas. Mesmo estando em frente de cenários completamente diferentes, como marcenarias, metalúrgicas, a metodologia de trabalho de um designer de produtos deve ser a mesma. Este é um processo científico que possibilita ao profissional encontrar soluções realmente adequadas. Veja exemplo de metodologia. Na indústria moveleira, o tempo de projetação depende do tipo de projeto. Projetos originais levam mais tempo que os produtos aperfeiçoados ou os adaptados. O tempo é muito rápido, em 5 dias é pedido o projeto de um produto aperfeiçoado, por exemplo. As demandas do setor de movelaria se dividem em tipos de estratégia que seguem:

- Estratégias de produção em série: MTS
- Make To Stock / MTO - Make To Order
- Estratégia de produção sob encomenda: ETO
- Engineering To Order

Case apresentado: Cadeira desenvolvida para hotéis do sul da Bahia. Para este projeto, além de um levantamento cultural, principalmente indígena, foram feitas pesquisas com usuários, funcionários e gerentes sobre os produtos que consideravam mais importantes nos hotéis - cadeiras, mesas, camas, etc. O projeto se desenrolou em Porto Seguro.

Dado importante: Apenas 10% dos projetos do SENAI na indústria moveleira estão na Bahia. Devido a isso, Marcus diz que ainda não é possível estabelecer uma identidade no design de móveis no estado.

Mesa Redonda - Relato de experiências / Prática profissional
Kelly Adriano, Félix, Luciano Carcará, Ândlei Lisboa e Neymar Palestra - O Design(er) caiu na rede
Gilson Rabelo Palestra - Debate acerca do objeto de design: Possíveis implicações para o currículo
Serafim Nossa


Diferente do que se vê na maior parte dos eventos de design, Serafim propôs a leitura coletiva do texto que embasa o Projeto do Novo Currículo de Design da UNEB e distribuiu de uma cópia para todos os participantes. Neste link poderá ter acesso ao texto. Com a imagem do Juicy Salif, realizou uma leitura com conteúdo extremamente rico e inquietante, tanto quanto a obra de Philippe Stark. Vale a pena ler e refletir sobre. Para entrar em contato com Serafim - serafimnossa@gmail.com

Mesa Redonda - Novo Projeto do Curso de Design da UNEB
Serafim Nossa, Djalma Fiuza e Elias Bitencourt Palestra - Design Institucional / Design dentro da UNEB
Cristiano Vieira Palestra - Desenvolvimento de produtos para a Indústria Automotiva
Gustavo Busson


Gustavo Busson é Engenheiro Mecânico, tem Mestrado em Mecatrônica e trabalha no desenvolvimento de produtos plásticos há 4 anos na indústria automotiva da Bahia. É o líder de engenharia da Dow Automotiva. Participa de um projeto de desenvolvimento da parte interna de um novo automóvel da Ford que será lançado para Brasil, China e Índia. Na Bahia, há em Camaçari o primeiro pólo de engenharia automotiva da América Latina - 1.100 profissionais da área expandindo para aproximadamente 1.500 cargos que deverão ser ocupados muito mais por profissionais de fora devido à falta de capacitação ou comunicação com a academia local. Abaixo as etapas de design/engenharia de automóveis que ele segue:

01. Tema do automóvel - requisitos de engenharia avançada Sketchs, brainstorms, levantamento de requisitos (Baseado em que vai ser projetado este novo automóvel? Que tipo de aperfeiçoamento será feito?) Para Busson, nada se cria nesta indústria, tudo se aperfeiçoa.
02. Chassi - Primeiro modelo físico fotometria - adequar as dimensões do "tema" a um modelo real com medidas reais, em um modelo 3d em que será feito a adaptação.
03. Modelos físicos Tecnologia CNC - usar um modelo 3d e fatiá-lo, para cada fatia cria-se uma representação de um modelo real. Estas fatias serão usinadas em um modelo de escala 1/10. Em cima dele será feita uma escultura em argila que será encaminhada para aprovação. Nesta etapa, o modelo já pode ser submetido aos primeiros testes - aerodinâmica.
04. Redigitalização da escultura - Realiza-se uma nova fotometria com o alisamento de superfície conseguido no modelo em argila.
05. Modelo físico em escala real - Novo modelo em argila e mais um alisamento da superfície até atingir um grau de perfeição alto.
06. Breakdown das peças - Divisão em peças e nova fotometria.
07. Estimativa de processo de fabricação e ciclo de vida do produto.

Neste momento as peças já estão separadas e existem protótipos em tamanho real para cada uma. Esta é a última fase antes dos testes de rodagem com o protótipo e a validação para a produção industrial. Busson diz que, nesta indústria, designers tratam da aparência enquanto engenheiros da manufaturabilidade.

Palestra - Design e Mercado de Trabalho
Daniel Soto


Quem é o designer? É o heavy user, aquele que tem percepção diferenciada dos produtos, tem o "olhar" treinado, quem dá forma ao produto através de metodologias e estudos científicos.
Possíveis habilitações: Motion, branding, animação 2d e 3d, embalagens, moda, impresso, produtos, etc. Para Soto, estas categorias não representam como o design ocorre, mas como o dividimos virtualmente.
Onde trabalha um designer? Dentro de uma instituição Departamento de design, comunicação, marketing... Tem trabalho interno e contínuo. Fora de uma instituição Escritório de design. Tem trabalho contínuo ou descontínuo (no caso de freelance).

Quando o designer é envolvido? No início do projeto ou quando está relacionado com inovação. No final do projeto como diretor de arte, de texto ou de fotografia.
Tipos de empresa que trabalha: Agências, empresas de comunicação, empresas de design ou de webdesign, produtoras (de vídeo), editoras, gráficas e empresas de comunicação visual, interno em empresas públicas (educação, saúde, segurança, política), interno em empresas privada (comércio, indústria, serviços). Profissional autônomo.
Soto enfatizou a importância de se fazer um bom Network entre fornecedores, familiares, clientes, parceiros e ex-clientes. Também falou do Marketing Pessoal, em prestar atenção no vestuário, no uso de jargões e na boa apresentação do portfólio.
Quanto cobrar? x = custo/hora do escritório (fixo, variável, pessoal, manutenção) y = horas de trabalho (complexidade do trabalho, experiência do designer, prazo de execução) z = custos de terceiros
Custo projeto alfa = (y.(x) + z) + impostos

Palestra - Design Gráfico e Direção de Arte em Publicidade
Daniel Rabelo

Com a excelente retórica de um ator de teatro, Daniel proporcionou uma didática palestra sobre setores e funções que existem dentro de uma agência de design ou publicidade. Entre as principais, ele cita:

01. Atendimento / Planejamento - Atende o cliente e escreve o escopo e briefing do projeto.
02. Redação - Junto ao diretor de arte, forma a dupla criativa.
03. Direção de Arte - Atuação mais usual de um designer. Trabalha no design de interface.
04. Direção de Criação - Lidera todo o setor criativo e aplica as estratégias da agência nos projetos.
05. Mídia - Quem define onde e como a publicidade será veiculada.
06. Pesquisa - Setor que dá informações precisas para garantir a eficiência dos projetos.
07. RTVC (Rádio, TV e Cinema) - Configura e aplica as ações audio-visuais nestes meios.
08. Produção - Quem contata os fornecedores e cobra prazos.
09. Tráfego - Responsável por agir entre os setores, levando arquivos e informações a fim de não deixar os projetos se perderem no caminho.


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Ândlei Lisboa é designer, formado na UNEB, ex-empresário júnior e atualmente foca seus estudos e trabalho em gestão de design e design thinking. É louco por inovação e gerenciamento de projetos. Sempre postando material sobre os assuntos no twitter @andleilisboa.

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